Sinto-te perto, como quando é Inverno e a chuva bate na minha janela, pedindo para entrar. Limpa e rápida, num dia triste e escuro. Quando te vejo, toco-te com os meus braços, braços de lã, inundados de borbulhas e coragem para fazê-lo. Beijo a tua face com delicadeza, como uma abelha a poisar numa rosa vermelha, aquelas que eu tenho no meu jardim. Necessito de ter calma e tenho que ser precisa. Digo-te um olá baixinho, com a voz rouca, para não ser demasiado e tu, tu és minha rosa e eu sou tua abelha.
quem diz é quem é, comes papa nestlé, o teu pai é um jacaré e a tua mãe um bebé
Perdi-me nas inseguranças do vento, nos lençóis da nossa cama e no chá frio, esquecido, deixado para arrefecer. Em passos gelados de pés na pedra do chão, num farrapo vestido para ir á cozinha fazer ovos mexidos. Criar expectativas de uma vida melhor, onde eu não me perca nas palavras abafadas e geladas criadas por um ser magnânimo, inteligente e jeitoso. Procurando fronteiras sem inicio, num começo quente mas gelado como o meu coração por dentro. Sentindo-me sexy num momento complexo, inexplicável e intenso, de sabor e textura, cheiro e abrigo. Comendo bolachas de aveia e beijando a minha gata, cor azul russo. Olhos cegos e apagados na cinza do meu lápis de carvão, utilizado tantas vezes para os meus rascunhos de cartas de amor, coração aceso num congelador, e vivendo para as carnes e corpos humanos humildes e promissores para uma vida melhor, cabeça em Marte, pensando como seria casar com um marciano. Nua sobre um véu, véu este rasgado pelas mágoas do tempo e palpável pelas minhas mãos frias. Sentada no chão, com um cobertor encobrindo meu corpo, raios de sol entram pela janela abafada de cortinados laranja, oiço a nossa música na rádio, mas sozinha.